Você está aqui

Carex - Brasil

O CAREX (CARcinogen Exposure) é um sistema internacional de informação sobre exposições ocupacionais a agentes cancerígenos. Originalmente, foi desenvolvido com finalidade epidemiológica de vigilância da exposição e determinação do risco e carga da doença em países europeus. A abordagem primordial do CAREX é sistematizar informações sobre a prevalência das principais exposições cancerígenas em ambientes de trabalho, levando em conta estatísticas populacionais censitárias e registros administrativos das populações de trabalhadoras e suas inserções no processo produtivo. Por outro lado, lança mão de mensurações in logo dos níveis de exposição a determinados agentes cancerígenos de interesse. As avaliações ambientais de rotina são incorporadas e levadas à validação de experts ad hoc, sempre que disponíveis, sejam elas realizadas a partir de levantamentos prévios ligados ao governo, empregadores e trabalhadores.

Na lógica da vigilância de base populacional, o modelo original deve ser adequado para cada realidade nacional, considerando as especificidades de seus processos produtivos (formas de produção, distribuição da força de trabalho, tecnologia, insumos utilizados, padrões ambientais, etc.). Neste sentido, também as prioridades de vigilância, no que se refere à definição de agentes, exposição e setores, também deve ser ajustada.

A iniciativa original do CAREX considerava estimativas embasadas em dados coletados nos dois países de referência (EUA e Finlândia), que foram, posteriormente, adaptados e refinados par experts nacionais em 19 países da União Europeia. A matriz de exposição utilizou a classificação ISC-Rev.2 para as atividades econômicas e a ISCO para as ocupações (Kauppinen, 2000; Kauppinen et al. 2001). A matriz europeia incluiu 55 categorias industriais e as estimativas foram feitas para o período de 1990 a 1993. Foram avalias exposições a todos os agentes dos grupos 1 e 2 da IARC na época, além de alguns agentes do grupo 2B e da radiação ionizante. Os níveis de exposição foram atualizados na Finlândia, Espanha e Itália (EU-OSHA, 2014). 

CAREX nas Américas

Nas Américas, a Costa Rica e o Canadá desenvolveram as primeiras experiências de vigilância de agentes carcinogênicos. Além destes, seguiram-se experiências no Panamá, Nicarágua, Colômbia e Peru. 

Atualmente, o modelo CAREX mais desenvolvido é o do Canadá que, além das anteriores, passou a incluir estimativas de exposições ocupacionais não ambientais como o arsênico na água de abastecimento e o benzeno ou formaldeído no ar em geral. As estimativas são produzidas para atividades econômicas ocupações, território e sexo. A classificação de atividade econômica utilizada é a NAICS – North American Industry Classification System, ao invés da ISIC. Além disso, o modelo foi ampliado para incluir outros agentes de exposição, como a radiação solar UV, as drogas anti-neopláticas e o trabalho em turnos (Peters et. Al. 2015).

Outra inovação do CAREX Canadá foi a disseminação de informação sobre exposição a riscos aos interessados por meio de um aplicativo disponível da web. Os métodos de determinação e aas definições de classes de exposição estão relatados claramente em website que inclui vídeos e treinamento e tutoriais, cem como uma ferramenta interativa de determinação de risco. Outra ferramenta mostra dados por agente, território, indústria ocupação, gênero e nível de exposição (Peters, Nicol, e Demers, 2012).

Em 2014 a Organização Pan-americana da Saúde realizou oficina “Fortaleciendo capacidades para el desarrollo de proyectos nacionales CAREC (EXposición a CARcinógenos) en America Latina y el Caribe”, na cidade de Bogotá. Os objetivos da oficina foram: apoiar o Instituto de Saúde Pública do Chile a finalizar seu projeto CAREX a partir do guia técnico e metodológico do CAREX LAC; Sensibilizar e fortalecer a capacitação dos profissionais da Argentina, Brasil, Bolívia, Uruguai e Paraguai para a construção de seus projetos nacionais CAREX. 

O CAREX-Brasil

Nesta oficina foi constituído o núcleo inicial de trabalho do CAREX-Brasil, composto por representantes do Departamento de Saúde Ambiental e do Trabalhador do Ministério da saúde, do Instituto Nacional do Câncer e da Fundacentro.

O estabelecimento de um sistema de vigilância a exposição ocupacional a agentes carcinogênicos no Brasil tem suas bases em algumas experiências anteriores. Em 2009, foi constituído o Sistema de Informação e Monitoramento de Populações expostas a Agentes Químicos (SIMPEAQ) (Brasil, 2009). O sistema tinha como objeto o monitoramento biológico e ambiental de trabalhadores expostos, com mecanismos para identificação de eventos sentinelas. Por motivos técnicos e operacionais o sistema não foi implementado.

Estimativas de trabalhadores expostos a alguns carcinogênicos no Brasil foram desenvolvidas como pesquisas de doutoramento e pesquisas. Ribeiro e colaboradores, (2008) abordou a exposição à sílica livre. O trabalho teve como objetivo subsidiar atividades do Programa Nacional de Eliminação da Silicose (PNES). Foi elaborada uma matriz de exposição de atividades econômicas e ocupações, classificadas conforme Semiatycki (1991) que foram aplicadas a dados de vínculos de trabalho da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS).

Outra iniciativa importante refere-se à vigilância do benzeno. Corrêa e Santana (2016) adaptaram dados da matriz finlandesa FINJEM à realidade brasileira, e tomando por base o Censo demográfico de 2010 estimaram o número de trabalhadores considerados expostos à substância.

Um estudo recente (Azevedo e Silva et al. 2016) tratou de estimativas a carcinogênicos confirmados e potenciais segundo a IARC. Foram consideradas exposições físicas e químicas e atividades ocupacionais tais como a indústria da borracha, do alumínio, pintura, asbesto, benzeno, diesel, formaldeído, níquel, poeira de couro, de madeira, radiação solar e sílica.

Avaliando a necessidade de consolidação das informações existentes, a padronização de metodologia de estimativas e a ampliação de agentes carcinogênicos, conforme a realidade nacional, a partir da constituição do grupo inicial do CAREX-Brasil em 2014 foi proposta a sua consolidação e ampliação. Foram a partir daí compostos grupos de trabalho dedicados a 5 substâncias selecionadas como prioritárias: benzeno, asbesto, sílica, radiação ionizante e agrotóxicos. O objetivo geral do CAREX-Brasil foi definido como estimar e monitorar a população exposta de agentes cancerígenos nos ambientes de trabalho com a finalidade de vigilância, prevenção e controle, subsidiando práticas públicas em saúde do trabalhador.

Especificamente os grupos realizam três objetivos: identificar fontes de informação relevantes para a quantificação de exposições cancerígenas no trabalho; levantar informações existentes, qualitativas e quantitativas, sobre os agentes cancerígenos selecionados; estimar o número de trabalhadores expostos por atividade econômica e ocupação.

O desenvolvimento do CAREX-Brasil é uma iniciativa do Ministério da Saúde, através do Departamento de Saúde Ambiental e do Trabalhador (DSAST/MS) e do Instituto Nacional do Câncer (INCA/MS), em parceria com a Secretaria Especial do Trabalho, do Ministério da Economia, através da Fundacentro. Colaboram, grupos de pesquisa em saúde do trabalhador com experiência em estimativas populacionais, toxicologia, vigilância em saúde do trabalhador e outros.

Bibliografia sugerida

Atenção à saúde dos trabalhadores expostos à poeira de sílica e portadores de silicose, pelas equipes da Atenção Básica/Saúde da Família: protocolo de cuidado / Coordenação Elizabeth Costa Dias ; Ana Paula Scalia Carneiro... [et al.] ;. -- Belo Horizonte: Nescon/UFMG, 2017. 76 p.
CORREA, Maria Juliana Moura; SANTANA, Vilma Sousa. Exposição ocupacional ao benzeno no Brasil: estimativas baseadas em uma matriz de exposição ocupacional. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro ,  v. 32, n. 12,  e00129415,    2016 .   Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/0102-311x00129415>.  Acesso em: 25 set. 2018. 
RIBEIRO, F. S. N. Mapa da exposição à sílica no Brasil. UERJ/Ministério da Saúde, 2010. Disponível em: <http://renastonline.ensp.fiocruz.br/recursos/mapa-exposicao-silica-brasil>. Acesso em: 20/10/2019.