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Saúde para quem precisa: Cesteh discute trabalho policial

Se você assistiu ao filme Tropa de Elite, faça um exercício de memória: cite, de cabeça, três ou quatro características do personagem principal da trama, o Capitão Nascimento. Muito provavelmente, você lembrou do policial durão, incorruptível, violento, dado a tiradas sarcásticas. Frágil, debilitado, confuso não parecem combinar com o personagem que veio a se tornar um dos mais populares do cinema nacional. Mas se voltarmos a lembrar com atenção da trama, todas essas características estão lá: o Nascimento que grita com a mulher ao chegar em casa, sente dificuldade para expressar suas angústias diante do psiquiatra e quer sair do front. Se nem o cinema foi capaz de sensibilizar o senso comum com relação ao homem de carne e osso que vive sobre a farda, o que dizer da vida real? Heróis para alguns e vilão para outros é a dimensão humana do policial que acaba negligenciada, para o mal dele e da sociedade a quem se destinam seus serviços.

Foi, portanto, mais do que justa as boas-vindas à saúde do trabalhador dadas pela pesquisadora do Cesteh/ENSP Rita Mattos, no fim do debate que se seguiu a palestra da pesquisadora do Claves/ENSP, Patrícia Constantino, sobre as condições de saúde e trabalho dos policiais do Rio de Janeiro. Pela primeira vez o Cesteh oferece um curso aos profissionais que cuidam dos policiais do estado. O ineditismo do tema já era sentido por Patrícia Constantino quando, há dez anos, começou a pesquisa-lo. Ao se dar conta da alta taxa de mortalidade entre policiais e aos riscos a que estão sujeitos, Patrícia concluiu que as pesquisas em saúde do trabalhador e os estudos sobre violência não poderiam deixar de fora essa categoria profissional. “Nosso intuito não foi o de estudar as polícias, mas as condições de saúde do trabalhador”, disse Patrícia.

A pesquisadora contou como começou seu estudo. De início, houve resistência na Polícia Militar, mas depois de um bem sucedido levantamento de dados com policiais civis, o comando da PM passou a colaborar. Foram ouvidos para a pesquisa 1458 policiais civis e 1108 policiais militares.

Ao longo da pesquisa, Patrícia encontrou alguns pontos em comum no relato dos policiais.  Ao falar das condições de trabalho, muitos deles citaram a contradição entre o trabalho real e o prescrito. O estudo abordou ainda o uso de drogas e a questão do risco, que pode ser encarada sob muitos aspectos, inclusive o de que vivenciar o perigo é estimulante para muitos dos profissionais. Ser policial, no Rio de Janeiro, está associado ao combate. Muitos policiais relatam enfado ao exercerem atividades fora do front. A pesquisa aborda ainda os temas da sexualidade e do suicídio.

Depois de apresentar os dados do estudo, Patrícia Constantino abriu o microfone para debater com os alunos do curso, profissionais de saúde que atendem aos policiais. A maioria deles confirmou os problemas levantados pela pesquisadora e disseram que houve uma ampliação, nos últimos anos, dos espaços de escuta dos policiais. O evento foi parte da semana presencial de um curso a distância que terá duração de 18 meses. A íntegra da palestra, em vídeo, estará disponível a partir desta sexta-feira, dia 17, no Canal da ENSP no YouTube.

 

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