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Pesquisa revela nível de estresse entre bombeiros do RJ
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O estresse foi o transtorno relacionado ao trabalho mais citado em pesquisa realizada com bombeiros militares do Estado do Rio de Janeiro. O trabalho desenvolvido pela psicóloga Kátia Maria Oliveira de Souza, do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), é fruto de seu doutorado em Saúde Pública realizado na ENSP. O estresse, destaca Kátia na tese, apareceu em suas diversas modalidades, como a síndrome de burnout, o transtorno de estresse pós-traumático e a fadiga da compaixão, que significa a redução do sentimento de compaixão como consequência das ações e cenários inerentes à natureza da atividade. Segundo ela, a categoria profissional e o campo da pesquisa escolhidos se apresentaram com particularidades específicas, reveladas por um momento ímpar de tensões e negociações com a gestão pública deflagrada no ano de 2011.
A tese A análise da relação trabalho e saúde na atividade dos bombeiros militares do Rio de Janeiro procurou investigar a atividade desses profissionais no estado fluminense, enfocando o vínculo entre esses dois pontos. O trabalho teve a orientação da pesquisadora Marta Pimenta Velloso, do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental da ENSP. Ao todo 20 bombeiros militares de variadas patentes, idades, sexo e formação participaram do estudo. Para as entrevistas, foi utilizado, como disparador de reflexão sobre os fatos ocorridos na rotina de trabalho, um conjunto de imagens fotográficas de profissionais em salvamentos.
Segundo Kátia, a análise da relação trabalho e saúde foi construída por meio do exame do conceito de atividade, vista sob uma perspectiva multidisciplinar, priorizada pela ótica do trabalhador, privilegiando o discurso elaborado a partir do cotidiano dos bombeiros. Para a composição do eixo teórico-metodológico do estudo, explicou Kátia, foram utilizados os aportes de quatro clínicas do trabalho: ergologia, clínica da atividade, psicodinâmica do trabalho e psicossociologia francesa.
Não valorização da classe foi variável de análise na relação saúde-doença
O momento em que os dados foram coletados, em 2011, foi caracterizado por um cenário marcado pelos fatores que convergiram numa intensa manifestação da categoria, que lutavam pelos direitos ao trabalho, à saúde e ao reconhecimento profissional. De acordo com Kátia, a perspectiva da psicodinâmica do trabalho, a dinâmica do reconhecimento entre os sujeitos e a sua organização também podem ser apontados como fator promotor de saúde ou de adoecimento.
A pesquisadora defendeu que a falta de diálogo por ocasião das negociações por melhores salários foi vivenciada pelos bombeiros militares como uma expressão de não reconhecimento das autoridades governamentais pelo trabalho da classe. Isso ocorreu principalmente, apontou Kátia, porque os profissionais entendem que são identificados pela população por um imaginário heroico, justificado pelo fato de serem especialistas que atendem de forma resolutiva em diversas frentes de salvamentos.
Para Kátia, a grande questão é que “em função da luta pelo reconhecimento, os bombeiros militares, com o intuito de manter a imagem de herói, podem banalizar os riscos existentes nas suas ações de salvamento, tornando-os mais vulneráveis aos acidentes de trabalho e às doenças. Diferente do ideário heroico, o estudo revelou a existência de trabalhadores fragilizados no cenário da vida real. Pessoas igualmente vitimadas pelos danos à saúde e tragédias que atingem a população”.
“Ao analisar a atividade dos bombeiros, com base na dinâmica ‘prazer e sofrimento’”, continuou a pesquisadora, “pode-se dizer que, para esses profissionais, a maior e mais explícita fonte de prazer da atividade é salvar vidas. No lado oposto, está a busca e o recolhimento de corpos, representando um dos pontos de maior sofrimento para o trabalhador dessa área”.
As consequências do trabalho cotidiano
Em sua pesquisa, Kátia revelou que, em decorrência do trabalho no campo das emergências, tais trabalhadores frequentemente necessitam lidar com os imprevistos em sua atividade. Segundo ela, a cada atendimento, o profissional é apresentado a situações novas que demandam gerenciamento de ações e decisões rápidas, das quais nem sempre se pode prever o desfecho. Dessa forma, disse ela, os bombeiros militares permanecem constantemente vulneráveis às situações que produzem alto nível de estresse. “Essa exposição prolongada leva a um efeito acumulativo que promove o adoecimento ao longo de toda carreira.”
Conforme Kátia ressaltou anteriormente, além dos transtornos mentais e comportamentais relacionados ao trabalho, como a síndrome de burnout, o transtorno de estresse pós-traumático e a fadiga da compaixão, implicações produzidas em função do uso do álcool também foram citadas na pesquisa.
Para ela, no cenário contemporâneo no qual o trabalho se inscreve, existe um efeito de invisibilidade do trabalho real que alimenta a negação das origens dos processos árduos no trabalho e de seus riscos, contribuindo para o agravo do sofrimento psíquico. O estudo, disse Kátia, “permitiu perceber uma série de fatores disparadores dos danos à saúde dos profissionais bombeiros militares que podem ser considerados inerentes à natureza da atividade”.
Para concluir, Kátia apontou que, diante dos resultados da pesquisa, a sugestão é que avaliações acerca dos profissionais bombeiros militares sejam pautadas nos fatores que tenham como finalidade a promoção de maior visibilidade do trabalho real, sendo capazes de fazer emergir as origens dos processos contraditórios vividos no cotidiano. Por fim, revelou a psicóloga, “entendemos que a exploração ampla do tema ‘atividade’, em correlação ao binômio ‘trabalho e saúde’, pode promover melhor compreensão dos determinantes relativos à saúde do trabalhador, como também favorecer, no que remete especificamente a esta profissão, um diálogo mais positivo entre as interfaces econômica e política”.
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