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Benzeno e a Saúde dos Trabalhadores: pesquisadora relembra história
Abas primárias
O Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP) recebeu a pesquisadora titular aposentada da Fiocruz, Lia Giraldo, em aula aberta do Programa de Formação Saúde, Trabalho e Ambiente na Indústria do Petróleo. Pioneira nos estudos sobre benzeno, ela fez um histórico sobre a relação da substância com a saúde dos trabalhadores e as conquistas alcançadas em relação à exposição. Os objetivos da aula foram revelar os processos nocivos para a saúde nos territórios e ambientes, além de ampliar a compreensão da complexidade dos processos saúde-doença-cuidado nos territórios.
A abertura da aula contou com a participação do diretor da ENSP, Hermano Castro, que ressaltou o importante processo histórico relacionado a exposição ao benzeno, nas duas últimas décadas, e a luta do movimento sindical. Para ele, é importante retomar essa luta no contexto atual. Hermano destacou, ainda, a questão da flexibilização das Normas Regulamentadoras do Trabalho (NR’s), reforçando que era preciso revê-las, mas não retirá-las. O diretor da Escola Nacional de Saúde Pública finalizou sua participação na abertura da aula enfatizando a importância da realização da 16ª Conferência Nacional de Saúde - que acontecerá de 4 a 7 de agosto, em Brasília. “Essa é a hora de lutarmos pelos nossos direitos”.
Dando início a sua apresentação, Lia Giraldo fez uma breve contextualização sobre o novo ciclo do capitalismo e sobre as perdas dos últimos anos. A professora destacou que a área da Saúde do Trabalhador é estratégica, por ser um seguimento com força política, através da participação dos sindicatos. Em sua apresentação Lia buscou mostrar como a reprodução social determina a saúde nos territórios, dando como exemplo, não limitar a ação ao diagnóstico de doença e ao nexo causal, colaborando com a ampliação da autonomia dos sujeitos sociais frente aos processos de luta por garantia de direitos à saúde e ao ambiente saudável. Ela defendeu a importância de atuar na perspectiva da integralidade.
Cubatão: o vale da morte
Após fazer breve contextualização a pesquisadora falou sobre sua experiência pessoal e atuação em Cubatão, São Paulo, e em Pernambuco. Lia trabalhou por anos em Cubatão, que ficou conhecida como o vale da morte, pela poluição da água e do solo. Assim começou sua história de luta contra o benzeno. O local ficou conhecido pelos altos índices de poluição, pela morte da vegetação, da floresta, pela mortalidade elevada da população geral, pela morte de trabalhadores, além da elevação de acidentes e doenças de trabalho. Neste contexto, Lia deu como exemplo os casos de malformação congênita em crustáceos e os casos de anencefalia e outras malformações congênitas do tubo neural. Em 1981, Cubatão registrou 3 casos para cada 1000 nascidos.
Segundo Lia, no final da década de 70 a população começou sua luta por melhores condições de vida, trabalho e saúde. Foi criada a Associação das Vítimas da Poluição e os trabalhadores começaram sua organização em defesa da saúde, foram criadas as Semanas de Saúde do Trabalhador. Em seguida a pesquisadora citou a questão dos desastres ambientais e os principais indicadores de nocividade de saúde da população em geral, revelados pelos sistemas de informação e pela vigilância em saúde, entre elas: enfermidades respiratórias (principal motivo de internação hospitalar e primeira causa de morte na população); malformação congênita; elevada incidência de acidentes e doenças do trabalho; e elevada ocorrência de câncer.
Lia ressaltou que especialmente entre os anos 1983 e 1995, em São Paulo, houve forte aliança entre redes de técnicos, institucionais e sociais nas lutas por melhores condições de vida, saúde e trabalho. “Entre os anos de 1980 e 1988 fatos novos começaram a modificar o cenário (redemocratização do país). Houve fortalecimento da organização sindical. Na região de Santos-Cubatão foi realizada a organização do primeiro Programa de Saúde dos Trabalhadores (1983) e a democratização dos órgãos de saúde, ambiente, trabalho e previdência social”, explicou ela.
O Benzeno
Entrando na parte final de sua apresentação, Lia Giraldo falou especificamente sobre o benzeno. O benzeno é um composto comprovadamente cancerígeno para humanos, classificado como Grupo 1 da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) desde 1979, com base em evidências suficientes de que causa leucemia. A exposição ao benzeno, por suas características toxicológicas, levam a alterações hematológicas e neurológicas, como dores de cabeça, náuseas, irritação das mucosas respiratórias e oculares, danos no sistema nervoso, irritação do sistema nervoso central, irritação da pele. Esses sinais e sintomas são chamados de benzenismo.
De acordo com Lia, a mobilização dos trabalhadores fez toda diferença na identificação do problema. “O Acordo Sindical (Metalúrgicos de Santos-Cubatão), em 1976, foi fundamental para o reconhecimento dos ambientes insalubres. A partir do caso da Cosipa tivemos muitos avanços. Os mais expostos inicialmente foram avaliados com supervisão do sindicato e as alterações encontradas publicadas em revista especializada”, descreveu.
Segundo ela, as alterações hematológicas em expostos que estavam ocultadas foram descortinadas para os trabalhadores e para a sociedade. Houve, ainda, estruturação da Vigilância da Saúde com notificação obrigatória e investigação de enfermidades dos trabalhadores, entre elas, as alterações hematológicas por exposição aos solventes aromáticos.
Por fim, Lia Giraldo ressaltou que o benzeno é um exemplo a ser seguido. Para ela a partir desse caso houve avanço significativo no país sobre as diferenças entre medicina do trabalho e saúde do trabalhador. “O caso do benzeno mostra que podemos mudar a história, não podemos nos intimidar, pois com conhecimento e compromisso é possível mudar a história”, conclui.
A aula aberta foi transmitida pelo Facebook do Sindipetro-RJ. Acesse aqui.
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