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Tendências e padrões das fatalidades de ciclistas relacionadas ao trabalho no Brasil, 2014–2022

Abas primárias

O uso da bicicleta como meio de transporte e trabalho cresceu intensamente no Brasil na última década, especialmente com a expansão dos serviços de entrega por aplicativos. Contudo, os acidentes fatais envolvendo trabalhadores ciclistas permanecem invisibilizados nas estatísticas e pouco explorados pela pesquisa. O estudo recém-publicado no periódico Scientific Reports analisou os óbitos de ciclistas em acidentes de transporte registrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) entre 2014 e 2022, destacando aqueles associados ao trabalho. Dos 6.590 óbitos identificados, apenas 272 (4,1%) foram classificados como acidentes de trabalho, embora análises de sensibilidade sugiram que esse número pode estar subestimado em função de falhas de preenchimento na Declaração de Óbito..

Os achados revelam um perfil marcado pela vulnerabilidade social: a maioria das vítimas era de homens jovens e de meia-idade (29 a 58 anos), trabalhadores de baixa escolaridade, predominantemente dos setores industrial e de comércio/vendas. Quase dois terços dos óbitos resultaram de colisões com veículos motorizados, principalmente automóveis, caminhonetes e caminhões, com maior concentração nas regiões Sul e Sudeste do país. Esses acidentes representaram uma carga expressiva de mortalidade precoce, com 8.896 anos potenciais de vida perdidos, reforçando o impacto social e econômico desse agravo.

Um dos problemas mais críticos apontados pelo estudo é a elevada proporção de registros com informação ausente sobre a relação do óbito com o trabalho: em 57% dos casos essa variável estava em branco ou ignorada. Essa lacuna compromete a visibilidade do problema e limita a formulação de políticas específicas de prevenção e proteção social. Os autores defendem a necessidade urgente de qualificar o preenchimento das declarações de óbito e fortalecer a vigilância em saúde do trabalhador, especialmente diante da crescente precarização e informalidade no trabalho sobre bicicletas. O estudo aponta, assim, para a urgência de integrar políticas de mobilidade urbana, segurança viária e proteção social dos trabalhadores ciclistas