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Pesquisadora fala sobre geografia do uso de agrotóxicos no Brasil e conexões com a União Europeia
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A pesquisadora do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), Larissa Mies Bombardi, esteve na ENSP, na segunda-feira, 26 de agosto, pra apresentar seu estudo de pós-doutorado sobre a Geografia do uso de agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia. Bombardi apresentou um levantamento exaustivo de dados, sem precedentes, sobre consumo de agrotóxicos no Brasil e fez um paralelo com o que acontece na União Europeia. O Atlas contém mais de 200 páginas com infográficos que esmiúçam, quantificam e facilitam a compreensão dos impactos dos agrotóxicos no país.
Confira a apresentação no Canal da ENSP, no Youtube.
A atividade foi promovida pelo Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP), em parceria com o Fórum Nacional de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e Transgênicos. A mesa de abertura contou com a participação do pesquisador do Cesteh/ENSP, Luiz Claudio Meirelles, da pesquisadora do Cesteh, Maria Blandina Marques dos Santos, substituindo a coordenadora do Centro, Kátia Reis, e da presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Gulnar Azevedo.
Confira, abaixo, o vídeo com a mesa de abertura na íntegra.
O estudo Geografia do uso de agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia
O estudo é fruto do pós-doutorado de Larissa Bombardi, realizado na Escócia, na Universidade de Strathclyde - Glasgow, desenvolvido com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Em entrevista ao 'Informe ENSP', a pesquisadora explicou que a questão central do estudo foi trabalhar a dialética presente na agricultura brasileira no sentido de como ela se insere na economia mundializada e que contradições isso envolve.
De acordo com Larissa, o Brasil é um grande produtor de alimentos, no entanto essa expressão "alimentos" não justifica exatamente o que é a agricultura brasileira, pois o alimento tem sido convertido em commodities e em agroenergia. "Destinamos uma parte enorme do território brasileiro para esses cultivos, temos em soja no Brasil uma área equivalente a Alemanha, e metade do volume de agrotóxicos no Brasil vai pra soja. Então não estamos falando exatamente em produção de alimentos", explicou.
Segundo a pesquisadora, tivemos um aumento de quase 100% da área de soja, quase 50% da área de cana, e diminuição de áreas de arroz, feijão, trigo e mandioca. Enquanto importamos feijão. "A agricultura no Brasil é voltada para uma inserção em uma economia mundializada, exportamos para outros países e não produzimos exatamente alimentos, nos tornamos, também, um importador de alimentos", descreveu ela.
A agricultura feita com base na monocultura demanda muito insumo químico, desde fertilizantes químicos até agrotóxicos, e isso explica porque o Brasil é um dos maiores consumidores mundiais de agrotóxicos. Desde 2008, o Brasil e os Estados Unidos, revezam no primeiro e segundo lugar. Isso tem um impacto enorme na saúde humana. "Entre 2007 e 2014 tivemos 25 mil pessoas intoxicadas com agrotóxicos de uso agrícola no país. Dessas, 20% são crianças e adolescentes de 0 a 19 anos, o que é muito grave, tem uma questão muito séria ligada a infância", destacou a pesquisadora. Além disso, o Ministério da Saúde e a Fiocruz indicam que para cada caso notificado, temos 50 outros casos que não são notificados. Ou seja, é possível que nesse período tenhamos tido 1.250 milhão de pessoas intoxicadas com agrotóxicos.
Contradições com a União Europeia
Relacionando com a União Europeia, Larissa explicou que uma parte das indústrias que vendem essas substâncias têm sede na União Europeia, nas quais 1/3 das substâncias autorizadas no Brasil são proibidas. Ou seja, essas empresas têm sede na União Europeia e esses países proíbem em seus territórios uma parte das substâncias que são vendidas no Brasil. Mas importam alimentos, o que envolve a discussão de círculo de envenenamento, pois de fato, parte dos alimentos - o Brasil é o segundo maior fornecedor de alimentos para a União Europeia - volta e está tendo uma discussão atualmente na União Europeia de como é feito esse controle. A sociedade civil europeia está discutindo qual o rigor do controle e pondo isso em questão.
Segundo a pesquisadora, está em discussão de forma contundente, desde junho até agora, a questão do acordo Mercosul - União Europeia, justamente porque a União Europeia quer impor no acordo o chamado princípio de precaução. "Se esse artigo for colocado no acordo a União Europeia vai poder dizer não pra determinada importação se suspeitar que possa ter uma carga maior de resíduo de agrotóxicos ou que determinada produção agrícola possa estar associada ao desmatamento na Amazônia. É uma questão fundamental que tem a ver com a inserção do Brasil na economia mundializada e tem a ver com a geografia", analisou Bombardi.
Geografia do uso
A geografia é ciência que procura entender as correlações sociedade e ambiente, nesse contexto, ela busca compreender como o Brasil se insere na economia mundializada. De acordo com a pesquisadora, nos inserimos subalternamente na perspectiva econômica pois exportamos produtos primários, sobretudo, produtos agropecuários. Sete dos 10 produtos mais exportados pelo Brasil são de origem agropecuária e tem baixo valor agregado, pois são produtos básicos. Nos inserimos de forma subordinada, também, pois toleramos produtos que são proibidos na União Europeia, e toleramos quantidades que não são toleradas nesses países.
"Temos um passivo ambiental e humano enorme do ponto de vista da contaminação humana e ambiental. A cada dois dias e meio uma pessoa morre no Brasil intoxicada com agrotóxico de uso agrícola. Isso é um quadro gravíssimo", advertiu a pesquisadora.
Para Larissa Bombardi, do ponto de vista da saúde, no momento atual, precisamos buscar formas de consumir alimentos agroecológicos. Larissa explicou que a alimentação agroecológica é desenvolvida necessariamente em base familiar, e garante, também, que do ponto de vista social, colaboremos com uma produção interessante agrícola, não apenas do manejo e não somente do aspecto natural ou ambiental, mas do ponto de vista humano.
Do ponto de vista político, ela ressaltou que está em vias de ser votado a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNARA), e precisamos estar atentos para apoiar. "Por outro lado, também está em vias de ser votado o PL 6299, que ganhou o apelido de PL do Veneno. Precisamos estar atentos para nos posicionarmos contra a aprovação dessa lei", alertou.
"Além de pressionar o poder público, é fundamental estarmos de olho na água, para que ela seja investigada e para que possamos reduzir os limites de resíduos que permitimos. No Brasil permitimos um resíduo de glifosato que é 5 mil vezes superior ao limite permitido na água potável da União Europeia. É fundamental que atuemos enquanto cidadãos", finalizou a pesquisadora.
Confira, abaixo, a apresentação de Larissa Bombardi na íntegra.
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