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Documento "Saúde na Rio+20", elaborado pela FIOCRUZ, é debatido na cúpula dos povos

O documento Saúde na Rio+20: desenvolvimento sustentável, ambiente e saúde, em processo de construção pelo Grupo de Trabalho Fiocruz para a Rio+20, foi oficialmente apresentado, na manhã de quinta-feira (19/6), na Cúpula dos Povos.

Para debater o documento, estiveram presentes na Tenda 1 do Espaço Saúde, Ambiente e Sustentabilidade, montado pela Fiocruz, pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e pelo Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes), o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, o coordenador do GT Fiocruz na Rio+20 e do Centro de Relações Internacionais (Cris) da Fundação, Paulo Buss, e o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da instituição, Valcler Rangel.

O presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, e o o coordenador do Centro de Relações Internacionais (Cris) da Fundação, Paulo Buss, na apresentação do documento, na Cúpula dos Povos

“A Fiocruz instituiu um GT integrado com outras instituições, em um processo aberto de participação pública a fim de colocar a saúde na agenda da Rio+20, para que o tema ganhasse centralidade no debate sobre o desenvolvimento sustentável. Hoje, este documento não representa somente a visão da Fundação sobre a questão, mas reflete o pensamento da área de saúde de uma forma geral”, afirmou Gadelha na abertura do evento. “O documento ainda se encontra em construção e aberto a consulta pública. A intenção é que, depois de criada a declaração da Rio+20, ambos os documentos entrem em diálogo e o produto desse trabalho gere um livro sobre saúde, ambiente e desenvolvimento sustentável”.

Paulo Buss ficou com a missão de apresentar algumas das diversas questões contidas no documento ao público do evento Desenvolvimento Sustentável, Ambiente e Saúde: Debate sobre o Documento da Fiocruz para a Rio+20. Ele esclareceu que a formulação do texto foi pensada a partir de três pilares fundamentais: o econômico, o ambiental e o social, todos atualmente em crise. “Não se trata de uma crise estrutural, mas de uma crise do modelo de consumo do capitalismo contemporâneo. Todos os problemas nesses três campos implicam fortemente na saúde. A crise econômica, por exemplo, o problema do desemprego repercute na saúde com o aumento do número de suicídios, de doenças psico-somáticas e de demonstrações sociais de insatisfação”, explicou Buss.

O coordenador do GT Fiocruz também comentou que da eclosão dessa macro-crise surgiu o conceito economia verde, também abordado no documento. No entanto, ele acrescenta que existem correntes que não acreditam que o desenvolvimento humano e o uso de recursos naturais podem ser realizados de forma eficiente a partir dos moldes capitalistas. “O esverdeamento não deve ser pensado a partir do modelo vigente. Não basta somente reduzir o consumo, como proposto pela economia verde. A Rio+20 demonstra as dificuldades práticas de aplicação dessa noção apenas reducionista. É preciso buscar tecnologias alternativas e limpas”, esclareceu Buss. Ele ainda acrescentou que a questão também é central na área da saúde. “O setor saúde é um complexo positivo importante para o crescimento econômico, mas é marrom ou verde? Indústrias farmacêuticas, por exemplo, ainda jogam resíduos tóxicos no solo e na água, nocivos aos próprios trabalhadores e a população de forma geral. É preciso discutir como mobilizar o aparelho de estado para a regulação dessas questões, colocando órgãos ambientais e de saúde em diálogo permanente.”

Já o vice-presidente Valcler Rangel chamou atenção para como essas questões globais que afetam a saúde e o desenvolvimento sustentável necessitam serem pensadas em termos  locais, principalmente no que se trata do Brasil. “A Fiocruz realizou um estudo em que os resultados apontaram que 70% a 80% das unidades de saúde da Região Serrana do Rio de Janeiro, que sofreu muito com as chuvas recentemente, tinham sido construídas em áreas de risco climático. Esse é apenas um exemplo que demonstra a necessidade de alinharmos a visão global as experiências sociais locais de forma mais eficaz, a fim de desenvolver um trabalho mais sustentável no país”, afirmou Rangel. Ele também atentou para as consequências atuais da falta de atenção ao desenvolvimento sustentável e a saúde no que se trata do reforço das iniquidades sociais. “Não estamos todos consumindo o planeta: pessoas abaixo da linha de pobreza, por exemplo, estão sendo consumidas pelo sistema capitalista. É mais do que necessário reverter essa situação”, destacou.

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Por Renata Moehlecke.

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