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Mapeamento produtivo

"No interior do processo produtivo, efetua-se o processo de trabalho, que envolve diretamente a saúde dos trabalhadores e pode ser fonte de renda e de bem-estar, oportunidade de socialização e realização, mas também pode ser espaço de exploração, sofrimento, contaminação e acidentes, a depender das relações, condições e formas da organização do trabalho, que também são objeto da Vigilância em Saúde.

Como output desse processo produtivo, estão as mercadorias, os serviços ou as infraestruturas que podem exigir vigilância; além disso, em determinados casos, é possível que suas embalagens disseminem riscos para outros territórios. Pode haver também resíduos sólidos, efluentes líquidos e emissões atmosféricas, os quais, se não forem tratados e destinados adequadamente, podem vir a contaminar águas superficiais e subterrâneas, o solo, o ar e os alimentos no território da comunidade, causando impactos na saúde, na segurança alimentar, nas atividades econômicas de subsistência etc. Ainda como output, podemos ver as unidades produtivas como centros geradores e difusores de uma cultura diferente daquela da comunidade, não só no que diz respeito às noções de tempo, disciplina, hierarquia nas relações sociais e consumo, mas também a valores, como a competitividade, que vão influenciar os modos de subjetivação do grupo social, as identidades coletivas etc.

Assim, é de fundamental importância que a equipe de saúde responsável pelo território esteja atenta e capacitada para identificar esses processos produtivos no território - e em outras escalas geográficas - e suas relações com o ambiente e a saúde locais, mas que também abra os olhos para as relações do território com o sistema-mundo, como conceitua Milton Santos (1999), a fim de não perder de vista que no contexto da globalização e do capitalismo tardio, os territórios são predominantemente 'territórios-rede', permeados por fluxos de diversas naturezas, externos a suas fronteiras, que o conectam ao mesmo tempo a inúmeras redes também externas ao seu espaço. Assim como as comunidades, os territórios não são ilhas (Rigotto, 2008, p. 75)." (SANTOS, Alexandre Lima; RIGOTTO, Raquel Maria, 2010)


 

Trata-se de obter, organizar e analisar informações sobre empresas e indústrias em determinado território incluíndo diversis aspectos do processo produtivo com objetivo de direcionar ações de vigilância e planejamento de serviços de assistência.

Pode abranger entre outros:

  • Reconhecimento de setores produtivos, empresas e indústrias, ambientes de trabalho informais, etc. situados no território
  • Número e distribuição dos trabalhadores
  • Cadeias e fluxos produtivos (produtos, insumos e força de trabalho)
  • Equipamentos, insumos, tecnologia e organização do trabalho utilizados
  • Qualidade dos vínvulos trabalhistas, proteção social e precarização
  • Riscos presumíveis nos processos de trabalho
  • Dados demobráficos, econômicos e sociais da população

O mapeamento produtivo pode ser iniciado a partir de uma Matriz de Indicadores Básicos, e consitui uma atividade continuada, produzindo, a partir de aproximações sucessivas, informação e conhecimento sobre o processo saúde-doença de trabalhadores e da pupulação em geral em sua relação com o trabalho e com os diversos processos produtivos em determinado território.

Alguns estudos incorporam o conceito de Sistemas de Locais de Produção para debater a capasidade de produção de informação capacidade de inovação. O conceito pode ser adaptado para o mapeamento produtivo com objetivo de apoiar ações de saúde do trabalhador.

[Sistemas Locais de Produção] “referem-se a aglomerados de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, que apresentam vínculos consistentes de articulação, interação, cooperação e aprendizagem. Incluem não apenas empresas – produtoras de bens e serviços finais, fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de serviços, comercializadoras, clientes, etc. e suas variadas formas de representação e associação – mas também outras instituições públicas e privadas voltadas à formação e treinamento de recursos humanos, pesquisa, desenvolvimento e engenharia, promoção e financiamento”. [Em alguns casos, ao invés de sistemas, devem ser caracterizados como] “aglomerações produtivas cujas articulações entre os agentes locais não é suficientemente desenvolvida para caracterizá-las como sistemas." (Cf. Redesist, http://www.redesist.ie.ufrj.br/)

Veja informações socio-sanitárias e produtivas na Platatorma RENAST online:

Bibliografia sugerida

SANTOS, Alexandre Lima; RIGOTTO, Raquel Maria. Território e territorialização: incorporando as relações produção, trabalho, ambiente e saúde na atenção básica à saúde. Trab. Educ. Saúde, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 387-406, nov./fev. 2010/2011. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1981-77462010000300003. Acesso em: 7 dez. 2018.