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Amianto: país ainda luta pelo banimento da fibra mineral
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Na segunda-feira (20/6), a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca promoverá uma assembleia com as vítimas do amianto no Rio de Janeiro. A atividade, que reunirá pesquisadores, advogados, familiares e membros do Ministério Público de Rio de Janeiro e São Paulo, discutirá a programação do Encontro Nacional e Internacional das Vítimas do Amianto, que será realizado em Campinas, entre 5 e 8 de outubro de 2016. Além de debater a situação do amianto hoje no país, o evento tem o propósito de cobrar, alertar e incentivar instituições de saúde, Ministério da Saúde e poder público a aprimorar a vigilância epidemiológica dos indivíduos expostos à substância. "A invisibilidade e o silêncio epidemiológico provocados pela exposição são indiscutíveis, mas essa situação só mudará com o banimento total da fibra. As instituições de saúde devem se comprometer a fazer uma busca ativa dos casos e cumprir aquilo que está determinado na legislação, que é a vigilância dos expostos", salientou a coordenadora da Rede Ban Asbestos para a América Latina, Fernanda Giannasi.
Uma das organizadoras do encontro, a pesquisadora do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da ENSP Vanda D’Acri afirma que todo e qualquer nível de exposição ao amianto provoca danos à saúde. Ela, que recordou o descumprimento das leis e o lobby de parlamentares pelo uso do mineral, reforçou a necessidade de vigilância. "Nossa luta na justiça tem sido demorada. A relação capital-trabalho que nos molda, da exploração de um produto mais barato mesmo que ele provoque a morte de trabalhadores, não interessa para o sistema que vivemos. O período de latência da doença é grande. Os trabalhadores são demitidos após dez, quinze, vinte anos de trabalho, justamente quando começam a sentir alguma dificuldade respiratória. Somente depois de 20 ou 25 anos, em alguns casos, as doenças vão ser diagnosticadas. E nem sempre as vítimas as associam ao trabalho. É uma doença e uma mortalidade invisível, mas precisamos agir”.
Retrocesso parlamentar
Giannasi, que é fundadora da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto, repudiou o episódio ocorrido na última semana, na Câmara de Vereadores de São José dos Pinhais, quando a procuradora do Ministério Público do Trabalho do Paraná (MPT-PR), Margaret Matos de Carvalho, foi impedida de discursar na sessão que votaria a proposta de alteração de lei municipal que prevê banimento do amianto a partir de dezembro de 2016 (o propósito da votação era conceder à empresa de exploração da fibra daquela localidade mais seis anos de uso do amianto).
"Alguns embates ainda estão ocorrendo. Temos avanços e estamos firmando compromissos com diversas empresas para eliminação do amianto. Fábricas em Criciúma, Santa Catarina, Paraná e São Paulo abriram conversas para substituição da fibra, mas ainda temos casos em Minas Gerais e Rio de Janeiro que não avançaram. Agora, como pode uma câmara municipal pedir a ampliação de seis anos de uso do amianto com a justificativa de proteger empregos? Temos um parlamento desconectado da realidade social do país. Fazendo esse tipo de ação eles confrontam trabalhadores e instituições sérias de saúde colocando o emprego no eixo da discussão – o que não condiz com a realidade. O parlamento brasileiro segue na contramão da história”, alertou.
As doenças
As doenças profissionais relacionadas ao amianto são: a asbestose (doença crônica pulmonar de origem ocupacional e de caráter irreversível e progressivo), cânceres de pulmão, do trato gastrointestinal e o mesotelioma, tumor maligno raro, que atinge a pleura e o peritônio com um período de latência em torno de 30 anos.
Imagem capa: Radis
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