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Existe algum manual com orientações quanto à exposição a agrotóxicos?
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A OPAS desenvolveu, em 1997, um Manual de Vigilância da Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos, em anexo. Esse documento contém informações detalhadas sobre cada agente e suas manifestações clínicas, disponíveis no manual, e orientações gerais, que extraímos a seguir:
Os agrotóxicos podem determinar três tipos de intoxicação: aguda, subaguda e crônica. Na intoxicação aguda os sintomas surgem rapidamente, algumas horas após a exposição excessiva, por curto período, a produtos extrema ou altamente tóxicos.
Pode ocorrer de forma leve, moderada ou grave, a depender da quantidade de veneno absorvido. Os sinais e sintomas são nítidos e objetivos.
A intoxicação subaguda ocorre por exposição moderada ou pequena a produtos altamente tóxicos ou medianamente tóxicos e tem aparecimento mais lento. Os sintomas são subjetivos e vagos, tais como dor de cabeça, fraqueza, mal-estar, dor de estômago e sonolência, entre outros.
A intoxicação crônica caracteriza-se por surgimento tardio, após meses ou anos, por exposição pequena ou moderada a produtos tóxicos ou a múltiplos produtos, acarretando danos irreversíveis, do tipo paralisias e neoplasias.
Essas intoxicações não são reflexo de uma relação simples entre o produto e a pessoa exposta. Vários fatores participam de sua determinação, dentre eles os fatores relativos às características químicas e toxicológicas do produto, fatores relativos ao indivíduo exposto, às condições de exposição ou condições gerais do trabalho.
Características do produto: características toxicológicas, forma de apresentação, estabilidade, solubilidade, presença de contaminantes, presença de solventes, etc.
Características do indivíduo exposto: idade, sexo, peso, estado nutricional, escolaridade, conhecimento sobre os efeitos a medidas de segurança, etc.
Condições de exposição: condições gerais do trabalho, freqüência, dose, formas de exposição, etc.
As características clínicas das intoxicações por agrotóxicos dependem, além dos aspectos acima citados, do fato de ter ocorrido contato/exposição a um único tipo de produto ou a vários deles.
Nas intoxicações agudas decorrentes do contato/exposição a apenas um produto, os sinais e sintomas clínico-laboratoriais são bem conhecidos, o dìagnóstico é claro e o tratamento definido. Em relação às intoxicações crônicas, o mesmo não pode ser dito. O quadro clínico é indefinido e o diagnóstico difícil de ser estabelecido.
Sinais e sintomas de intoxicação por agrotóxico segundo tipo de exposição:
Agudos: Cefaléia, Hemorragias, Tontura, Hipersensibilidade, Náusea, Teratogênese, Vômito, Morte fetal, Fasciculação muscular, Parestesias, Desorientação, Dificuldade respiratória, Coma, Morte.
Crônicos: Paresia e paralisia reversíveis, Lesão cerebral irreversível, Ação neurotóxica retardada, Tumores malignos, Atrofia testicular, Pancitopenia, Esterilidade masculina, Distúrbios neuropsicológicos, Alterações neurocomportamentais, Neurites periféricas, Dermatites de contato, Formação de catarata, Atrofia do nervo óptico, Lesões hepáticas,etc.
Outro aspecto a ser ressaltado refere-se à exposição a múltiplos agrotóxicos. O trabalhador rural brasileiro freqüentemente se expõe a diversos produtos, ao longo de muitos anos, disso resultando quadros sintomatológicos combinados, mais ou menos específicos, que se confundem com outras doenças comuns em nosso meio, levando a dificuldades e erros diagnósticos, além de tratamentos equivocados.
Efeitos da exposição prolongada a múltiplos agrotóxicos.
Sistema nervoso: Síndrome asteno-vegetativa, polineurite, radiculite, encefalopatia, distonia vascular,esclerose cerebral, neurite retrobulbar, angiopalia da retina
Sistema respiratório: Traqueíte crônica, pneumofibrose, enfisema pulmonar, asma brônquica
Sistema cardiovascular: Miocardite tóxica crônica, insuficiência coronária crônica, hipertensão, hipotensão
Fígado: Hepatite crônica,colecistite, insuficiência hepática
Rins: Albuminúria, nictúria, alteração do clearance da uréia,nitrogênio e creatinina
Trato gastrointestinal: Gastrite crônica, duodenite, úlcera, colite crônica (hemorrágica, espástica, formações polipóides), hipersecreção e hiperacidez gástrica, prejuízo da motricidade
Sistema hematopoiético: Leucopenia, eosinopenia, monocitose, alterações na hemoglobina
Pele: Dermatites, eczemas
Olhos: Conjuntivite, blefarite
A ocorrência de efeitos neurotóxicos relacionados à exposição à agrotóxicos tem sido descrita com maior freqüência nos últimos anos. É o caso das paralisias causadas pela exposição aos organofosforados, que podem aparecer tanto como um efeito crônico como na forma de uma ação neurotóxica retardada, após uma exposição intensa, porém não necessariamente prolongada.
É importante realçar a ocorrência dos distúrbios comportamentais como efeito da exposição aos agrotóxicos, que aparecem na forma de alterações diversas, como ansiedade, irritabilidade, distúrbios da atenção e do sono.
Por último, vale a pena salientar que sintomas não específicos presentes em diversas patologias, freqüentemente são as únicas manifestações de intoxicação por agrotóxicos, razão pela qual raramente se estabelece esta suspeita diagnóstica. Esses sintomas compreendem principalmente os seguintes:
· dor de cabeça
· vertigens
· falta de apetite
· falta de forças
· nervosismo
· dificuldade para dormir.
A presença desses sintomas em pessoas com história de exposição a agrotóxicos, deve conduzir à investigação dìagnóstica de intoxicação por esses produtos.
Bibliografia selecionada:
1- Brasil. Ministério da Saúde. Organização Pan-Americana da Saúde. Manual de Vigilância da Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; 1996.
Categoria da Evidência: Grau D
Profissional solicitante: Médico
Descritores: Envenenamento; Exposição a Praguicidas
Teleconsultor: Pablo de Lannoy Stürmer
Fonte: BVS Telessaude - 29/10/2009
- 11413 leituras